No sábado, 10 de agosto, o Esquenta WOW ocupou o Museu Ciência e Vida, em Caxias, para debater com as mulheres da Baixada Fluminense os desafios enfrentados pelas mulheres no campo do trabalho, suas implicações e desdobramentos, assim como a capacidade criativa, inventiva e empreendedora das mulheres. O trabalho, ainda que seja visto como forma de empoderamento por uma parcela da sociedade, é, para outra parte, forma de sobrevivência, sobretudo no país onde o racismo e o machismo invisibilizam mulheres diversas.
Com atividades distribuídas em oficinas, shows e diálogos, o dia foi potente em trocas de afeto e aprendizados também sobre a dinâmica do território e mostrou um pouco, principalmente na mesa Dialoga Baixada, como essas mulheres são afetadas pela desigualdade de gênero na sua jornada do trabalho.
O evento teve início com uma oficina de yoga, oferecida por Camila Flávia. Na atividade, mulheres de todas as idades se conectaram por meio dos exercícios propostos, respeitando o limite de seus corpos e investigando, a partir do corpo e espaço, suas potencialidades.
A primeira mesa debates do dia, no Território de Partilha, Tássia Mendonça mediou o diálogo entre Jaqueline Jesus, Fátima Wilhelm e Míriam Starosky. Na atividade, cujo tema foi “Estudam mais, ganham menos: uma discussão sobre mulheres no mercado de trabalho”, as participantes ratificaram como o maquinário da cultura machista ainda funciona por meio da subalternização do trabalho feminino.
Jaqueline Jesus demonstrou como a sociedade culturalmente legitima o lugar das mulheres como sendo os ambientes doméstico e de cuidados, como as mulheres foram e ainda são colocadas no espaço privado, e como a presença em espaços de liderança, de representação e gestão pública e em espaços coletivos precisaram ser conquistados. Já Fátima Beis Wilhelm contou sua trajetória como líder comunitária da ocupação Ildo Meneguetti, em Canoas, Rio Grande do Sul, e sua percepção de batalhar pelos direitos de sua comunidade, pelo direito à moradia, e posteriormente pela capacitação de mulheres em habilidades ligadas à construção de suas próprias moradias.
Fechando a mesa, Míriam Starosky salientou a importância de pensarmos sobre o mundo do trabalho, ampliando o olhar além apenas do mercado de trabalho. A palestrante abordou que o discurso das autoridades legitima uma imagem coletiva criada do espaço adequado para a mulher ser o doméstico, de cuidados, reprodutivo, e não o espaço coletivo, produtivo, onde há também o empoderamento financeiro e a liberdade econômica. Ao final, a mediadora Thássia Mendonça reforçou a fala comum das mulheres da mesa de como as mulheres estão sendo privatizadas em casa para alimentar o mercado.
O momento Compartilhando Trajetória recebeu a atriz, escritora, ativista e ialorixá Kenia Maria para falar com o público do Esquenta WOW sobre a importância da mulher negra falar do resgate e respeito à cultura ancestral africana. Ela afirmou a necessidade de entender o passado, manter a africanidade dentro de cada uma e buscar a identidade da mulher preta. Kenia ressaltou que a violência aos ancestrais persiste, tendo em vista os ataques às religiões de matriz africana e à população negra, que sofre o encarceramento em massa. Ao final da atividade, a mãe de santo reafirmou a necessidade do afeto entre mulheres, sobretudo negras, que sofrem diariamente opressões machistas e racistas, e a busca da identidade da mulher negra, na conjuntura atual da nossa sociedade.
Uma professora negra de escola pública na Baixada Fluminense, uma jovem moradora de Caxias na faculdade na zona sul do Rio de Janeiro, uma educadora grafiteira que valoriza a cultura da Baixada, uma doméstica atenta às desigualdades que resolveu estudar e questionar a ordem das coisas. Essas histórias tem nome, sobrenome e endereço: Ivanete Conceição, Mariana Bispo, Lu Brasil e Marilza Floriano Barbosa, todas da Baixada Fluminense, e deram o tom da mesa Dialoga Baixada, com mediação de Lorena Pires. Cada uma pôde expor, a partir de suas trajetórias, uma gama de questões, como a desigualdade de gênero e econômica, vividas diariamente por muitas mulheres - e como elas resistem a essa opressão.
As oficinas também chamaram a atenção do público. Brincando pela igualdade de gênero e DesignLinhadas reuniram crianças e mulheres diversas que, por meio da arte, apontaram suas visões e propostas de mundo.
Com o tema “Nada sobre nós sem nós mesmas: uma troca sobre coragem e trajetória profissional”, as palestrantes da Roda de conversa Beth Cardoso, Bia Onça, Lourdes Barreto e Nair Jane compartilharam experiências e lutas profissionais nos espaços de trabalhos que oprimem e desafiam mulheres diariamente.
Bia Onça falou sobre sua trajetória até chegar ao sobrenome utilizado. A geóloga contou que o racismo presente em um colégio de classe média alta moldou sua personalidade, já que os cuidados para não ser destratada e a inteligência não foram suficientes para tirá-la da mira racista. A prostituta Lourdes Barreto compartilhou com o público os desafios enfrentados por sua escolha, deflagrada a partir das condições de violência e pobreza vividas na infância. Ela ponderou a marginalização da profissão e defendeu lugar legítimo para as que escolhem este caminho como profissão, a exemplo de algumas de suas companheiras de trabalho. Ela fundou a Rede Brasileira de Mulheres Prostitutas, de luta pelos direitos e alcançando respeito da comunidade.
“Sem o feminismo não tem agroecologia”, era a frase estampada na blusa de Beth Cardoso. A agrônoma abordou o machismo sofrido em sua profissão, área bastante masculinizada. A profissional contou que sua carreira é marcada pela resistência, já que, embora ela trabalhe tanto quanto os homens, é invisibilizada pela cultura machista da profissão. A doméstica Nair Jane dividiu sua experiência acerca do trabalho doméstico, exercido há mais de dez anos em troca de ‘casa e comida’. Através de sua experiência, Nair palestrou em universidades internacionais, fundou a Comissão de Segurança da Violência contra Mulheres e hoje atua como conselheira de domésticas, em Nova Iguaçu.
Todas essas mulheres quando falam de suas vidas, falam de traços vivos e consolidados da cultura patriarcal que impera, com fortes traços de discriminação de gênero, racismo, dependência econômica e limitações estabelecidas pela sociedade, e não pela qualidade das mulheres serem mulheres. Porque o lugar da mulher é onde ela quiser estar.
E foi assim, com vontade e liberdade de expressão, que as dançarinas do coletivo Jamaicaxias abriram a noite de apresentações com a oficina de Dance Hall, que mistura ritmos da cultura jamaicana. Ao longo da programação, Juju Rude cantou seus versos improvisados e mostrou a realidade sob a ótica de uma mulher poeta da Baixada Fluminense. Logo após, as poetas marginais Gênesis e Valentine recitaram versos que falam sobre machismo, transfobia e pautas eróticas. Para fechar a noite, Yas Werneck embalou o público com seus hits. Entre as músicas da artista e estudante de matemática, ‘Calmaria’, ‘Confiança’ e ‘Coméki’, acompanhada pelo público ensandecido.
Ao longo de 2019, para debater as questões definitivas às mulheres, a Redes da Maré realiza o Esquenta WOW, uma série de encontros que vêm ocupando diferentes territórios da cidade com atividades nas quatro dimensões do Festival Mulheres do Mundo (WOW) – diálogos, ativismo, empreendedorismo e intervenções de arte e cultura. A ideia é chamar atenção – até a 2ª edição, que acontecerá em novembro de 2020, no Rio de Janeiro – para a causa das mulheres, construindo pontes para outros projetos e novas possibilidades, mobilizando e trazendo a agenda das mulheres de uma maneira permanente e sistemática até o próximo Festival.
O Festival tem como missão oferecer espaço de escuta e diálogo, subvertendo a lógica de silenciamento imposta às mulheres durante anos. As trocas de experiências e afeto se apresentam como maneiras de traçar novas rotas e, possivelmente, solucionar problemáticas enfrentadas por mulheres de diferentes vivências. O Esquenta WOW, nessa perspectiva, visa unir públicos de diversos territórios, respeitando particularidades e apresentando novas maneiras de enfrentamento da desigualdade de gênero. Em sua 3ª edição, oficinas, feira delas, diálogo e cultura farão parte da agenda que, através do protagonismo feminino, visa enaltecer e incentivar a (re)existência de mulheres empreendedoras.
VEJA OS VÍDEOS E SINTA COMO FORAM OS PRIMEIROS ENCONTROS AQUI:
ACOMPANHE A COBERTURA DO EVENTO NOS CANAIS DO WOW
ASSESSORIA DE IMPRENSA • festivalmulheresdomundowow@gmail.com
CONTATO • festivalmulheresdomundowow@gmail.com
TODOS OS DIREITOS RESERVADOS @ 2024 REDES DA MARÉ & SOUTHBANK CENTER // SITE PIXFOLIO