No terceiro dia do Festival Mulheres do Mundo, foi realizada a mesa “Política de drogas: o que as mulheres têm a propor?”, mediada por Luna Arouca, pesquisadora do Centro de Estudos de Segurança e Cidadania (Cesec) da Universidade Cândido Mendes. Ingrid Farias, pesquisadora de drogas e gênero e coordenadora da Rede Nacional de Feministas Antiproibicionistas (Renfa), fez um histórico da política de drogas no Brasil e ressaltou a importância de as mulheres ocuparem os espaços de militância na temática. “A participação das mulheres no desenvolvimento desse campo é fundamental para construção de um projeto político de sociedade que paute o coletivo. E mulher pauta o coletivo”, afirmou a pesquisadora que organiza a Marcha da Maconha no Brasil.
A partir da narrativa de sua trajetória, a cientista social Nathália Oliveira, que é colaboradora da ONG Centro de Convivência É de Lei e coordenadora da Iniciativa Negra por Uma Nova Política de Drogas, perpassou as diferentes nuances da política de drogas e ressaltou a importância de saídas coletivas para problemas complexos. “Eu só posso pensar a construção de uma política de drogas que admita que estamos em guerra, que a gente admita a necessidade de construir um diálogo. A gente deveria expandir a nossa percepção sobre como arrumar ou sobre como organizar as políticas para minimizar os danos”, analisou Nathália.
Julita Lemgruber, socióloga e coordenadora do Cesec, reforçou a necessidade de avançar nas políticas de segurança pública. “O meu desconforto com a discussão da política de segurança pública, sem que se dê a devida importância à política de drogas, é que nós não vamos avançar”, concluiu a autora do livro “Cemitério dos Vivos”.
Encarceramento feminino
A conexão do tema no Brasil e a realidade no Reino Unido aconteceu na roda de conversa “Contra o encarceramento de mulheres e caminhos para enfrentá-lo por meio do acesso à justiça”. O espaço contou com a participação de Deborah Coles, diretora da ONG britânica Inquest, que trabalha com a família de pessoas que morreram dentro de prisões ou em consequência de violência policial.
“Nós queremos que as famílias das vítimas descubram o motivo e forma que as mulheres faleceram na prisão, para que seja possível compreender e humanizar as narrativas sobre essas mortes, bem como direcionar políticas públicas mais efetivas para esse contexto”, declarou Deborah.
Luciana Boiteux, professora da UFRJ, e referência no tema, apontou as drogas como a principal razão de encarceramento no Brasil. “Nos últimos anos, temos visto um aumento significativo no número de mulheres presas no Brasil. Este cenário em nosso país significa o encarceramento de mulheres pobres e negras”, pontua. A especialista enfatiza a problemática do encarceramento de mulheres grávidas e as condições em que elas são submetidas.
Juliana Borges, socióloga e autora do livro “O que é encarceramento em massa”, fez, em sua fala, um convite ao exercício de empatia para refletir sobre a questão de segurança pública e encarceramento. “Nossa lógica de punição a partir do encarceramento pressupõe que com o sofrimento e destruição da dignidade desses homens e mulheres presos, será restaurada a integridade desses indivíduos. E não é isso o que vem acontecendo”.
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